Prólogo

 

Não me peçam conselhos, que não os tenho para dar-lhes. Não se tratam de considerações, nem artigos, nem tratados ou manifestos a respeito do amor e suas agruras o que pretendo fazer deste espaço. Se queres soluções prontas para desavenças e desarranjos amorosos, receitas para mal de amar e desamar, fórmulas para o desconsolo e cura rápida de fossa profunda, vá buscá-los em outra estadia. Sugiro o Jabor ou a Martha, estes que os cultivam os montes. Fabricam-os com a regularidade cronológica das notícias entre as quais se comprimem os seus artigos. É bem diverso o que escrevo. Talvez por que venha dessa mesma matéria diversa e difusa, torpe e não poucas vezes irregular de que é feito isso que sou. Como explicar…

Vês? Sou e escrevo como aquele pequenino pássaro pardo (seria por acaso um sabiá?), repousado na ponta deste galho fronteiro de amendoeira. Escondido ali adiante das roseiras e do muro branco, de quem se ouve apenas a voz; mas cujo canto, feito principalmente de arco íris e luar, lhe faz largar o jornal um instante, com suas receitas e seus artigos, apenas para ouvi-lo melhor, para embebê-lo em seu canto. É inútil que tentes divisa-lo, ora pousa no chão, ora se equilibra entre as roseiras, não pára quieto o maldito passarinho, todavia, sempre a cantar. Não há ordens, nem apelos, nem imperativos em seu mavioso canto, afinal é um pássaro apenas, mas ainda sim e talvez exatamente por conta deste fato particular é que ele conquista toda essa sua distraída e enlevada  contemplação.

 

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PS: Que me desculpe os maus modos, cara leitora amiga. (Perdoe-me novamente, minha cara; é apenas circunstancial a intimidade da palavra: “amiga”, sendo este o nosso primeiro contato.) Trata-se de uma malsucedida tentativa de prólogo, o que aí vai escrito nestas primeiras linhas. Feito mais pela necessidade de tê-lo de que pela destreza em realizá-lo. Saberás um pouco mais, por certo, a respeito de mim e do que escrevo, em palavras posteriores. Por ora fica apenas o sabiá.

 

 

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